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Tatiana Navega

A visita da tristeza

De vez em quando, a tristeza, de mãos dadas com o cansaço dos dias que não param de chegar, irá entrar pela porta da frente de nossas casas com a cópia da chave que ela, por direito detém. O Sol, respeitando a necessidade de meia-luz da situação, deixará de brilhar e as nuvens, cumprindo seu dever, tornarão o céu escuro, nos preparando para chover.


Em dias de tristeza prostrada na sala pedindo uma xícara de chá, é preciso respeito, escuta e solidão. Pois ela, antiga, tem muito a ensinar.


Se bem recebida, senta diante de nós, tira da sacola agulha e lã, e nos pede para entregar o fio da vida que sai de nossas mãos. Se formos sábios entregamos sem reclamar. Ela ajusta seus óculos de intuição, une sua lã com o nosso fio e começa a tricotar.


Nesse momento, nós, temos algo muito importante a fazer, silêncio e espera. Observar o que a tristeza faz, começa pouco a pouco a doer, e nós, invariavelmente, sentimos vontade de chorar, o que é bom. Ela, fica, tricota, toma mais uma xícara de chá. A gente fica, chora e começa a se apegar a figura dessa amorosa anciã.


Porém, em dado momento, ela termina o trabalho. Nos observa com seus olhos escuros sem visão e diz:


- Aqui está. O fio da vida estava obstruído por lembranças e memórias acumuladas dentro de você. Por isso a sua dificuldade em respirar. Eu puxei e o tricotei de volta ao destino para que seja possível continuar a viver. Mas atenção, eu não posso vir sempre! Eu não posso morar aqui, tenho outros lugares para visitar. É preciso que você tenha mais paciência e aprenda a desenrolar suas emoções. Lembre-se, chorar faz bem.


Ela nos envolve com o xale que acabou de fazer, somos aquecidos pela nossa própria história. Ela sorri. A tristeza sorri. Recebemos um beijo no rosto e o cheiro de avó nos faz cair no choro outra vez.


Ela vai embora, a casa fica escura, vazia, nos convidando a sonhar.


Aliviados com o desembaraço que essa gentil forasteira faz, sonhamos com fios e novelos de lã. No amanhã, o sol volta a brilhar, deixando claro que é preciso fazer proveito dos dias acompanhados de tristeza.


Para que sejam profundos e raros também.



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