Era uma vez um decorador
- Tatiana Navega
- 17 de ago. de 2021
- 2 min de leitura
Era uma vez um decorador que passou anos e anos trabalhando e gastando todo o dinheiro que tinha na decoração da sua própria casa. Cada cantinho, cada cômodo, cada detalhe representava um pedacinho do que ele era, demostrando seu talento e personalidade.
As pessoas o visitavam e não poupavam elogios. Cada vez, mais e mais, ele sentia orgulho de ter estampado a sua volta a beleza que trazia dentro de si.
Porém, chegou um determinado momento, que ele, apaixonado pela própria construção, não se sentia confortável em mais nenhum lugar fora dela. Ao pisar na rua odiava as cores e a disposição dos objetos no mundo achando-os horrorosos e de mau gosto.
No primeiro momento ele se isolou, ficando apenas em casa, cômodo e confortável. Negava convites de amigos, de familiares e só aceitava encontros quando eram dentro de seu paraíso chamado LAR.
Mas isso se tornou um problema, ele acabou perdendo muitas relações, começou a sentir-se sozinho e desse sofrimento surgiu uma ideia: para ficar confortável no mundo, começaria a decorá-lo também, do jeito que ele achava que deveria ser.
Começou pela casa dos familiares, aos poucos se ofereceu para ajeitar a casa dos amigos e isso se tornou um vício, de noite, saía pelas ruas pintando e organizando tudo a sua maneira, ao seu estilo, para que todos pudessem se sentir bem.
Tudo começou a ficar igual. As pessoas começaram a se incomodar dizendo:
- Sua casa é bonita, mas isso não quer dizer que gostaríamos de viver dentro dela. Você pode sugerir que nos inspiremos em você, mas não pode obrigar-nos a viver dentro das suas projeções.
Ele não dava ouvidos. Sua casa era referência de conforto e beleza, se as pessoas não gostavam, logicamente é porque tinham mau gosto. Então, ele seguia pintando o mundo com suas cores pessoais sem pedir permissão.
Essa história, não podia acabar bem. Um certo dia, quando já havia se tornado insuportável essa mania de organizar o mundo a sua maneira, alguém o matou.
Em sua lápide, outro alguém escreveu:
"Morto. Sufocado dentro de um único cômodo.
Seu próprio EU."
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